19/06/12

Margaridas...



Mistério
Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,

Dizendo coisas que ninguém entende!

Da tua cantilena se desprende

Um sonho de magia e de pecados.



Dos teus pálidos dedos delicados

Uma alada canção palpita e ascende,

Frases que a nossa boca não aprende,

Murmúrios por caminhos desolados.



Pelo meu rosto branco, sempre frio,

Fazes passar o lúgubre arrepio

Das sensações estranhas, dolorosas...



Talvez um dia entenda o teu mistério...

Quando inerte, na paz do cemitério,

O meu corpo matar a fome às rosas!



Florbela Espanca, Charneca em Flor (1930)



1 comentário:

Anónimo disse...

"Talvez um dia entenda o teu mistério"